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segunda-feira, 26 de julho de 2010

Professor da UnB critica a formação de doutores no Brasil - Professor Dr Marcelo Hermes

Professor da UnB critica a formação de doutores no Brasil 

Para Marcelo Hermes, do Departamento de Biologia Celular da Universidade de Brasília, daqui a quinze anos o país não terá capacidade de fazer ciência de ponta "porque toda a geração se aposentou e os atuais não foram formados adequadamente"
 No último dia 10, os consultores do Centro de Gestão de Estudos Estratégicos (CGEE), ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, apresentou um estudo que concluiu, dentre outros, uma taxa média de 11,9% de crescimento ao ano do número de doutores no país. Para falar da expansão da pós-graduação no Brasil, a ADUNB entrevistou o professor do Departamento de Biologia Celular, Marcelo Hermes. Confira a seguir:

 - O estudo do CGEE mostrou que entre 1996 e 2008 o número de doutores titulados no Brasil cresceu 278%. O que o senhor acha da expansão da pós-graduação no país?

 A minha visão é contrária à expansão da pós-graduação, especialmente do doutorado. A maioria das pessoas acreditam que o crescimento no Brasil - e na UnB também - é positivo. A taxa de aumento, alguns anos atrás, chegou a variar entre 10% e 20%, um crescimento chinês. E todo mundo comemora isso, exceto alguns poucos. Eu acho que é um crescimento exagerado. Aliás, responder isso agora ficou mais fácil, desde que o país entrou no chamado super aquecimento. Esse crescimento de 9% ao ano o qual o país não suporta, já que não temos estrutura física para tanto bussines. E a mesma coisa acontece na pós.

 - Como é essa comparação?

 Para se ter pós-graduação são necessárias quatro coisas: os alunos, que querem fazer pós; os professores, que vão orientar e dar aula; os cursos e, claro, dinheiro. Dinheiro não tem sido o problema. Então o que acontece? Você tem um crescimento muito grande tanto no número de cursos, de alunos e de orientadores. Um olhar desatento, pensa "que bom!". Não. Muito pelo contrário. O país está andando para trás com esse crescimento exagerado da pós. Primeiro porque os professores têm uma capacidade finita de orientar. Antigamente, cada professor orientava cinco, hoje está orientando dez alunos. E isso causa uma queda da qualidade. Obviamente, você não consegue dedicar suficiente tempo para orientar esses alunos. Para formar doutores é preciso um trabalho artesanal. Eles têm que ser treinados, pois podem se transformar em orientadores no futuro. Além disso, nem todos têm capacidade de ser orientadores. Tem muita gente que não tem a formação técnica e a capacidade de orientar. E nem todo mundo tem a qualificação necessária para ser orientador de doutorado. E com esse crescimento exagerado, a pós está pegando vários professores que não têm a menor capacidade de orientar, mesmo que não queiram, porque vão pegar uns pontos a mais, vão ter uma promoção. Outro problema é a existência de alunos que não deveriam estar fazendo doutorado, porque não tem capacidade para isso.

- O senhor acredita, então, que nem todo mundo está apto a fazer um doutorado?

Sim. É curioso que hoje já entendemos que nem todo mundo deve fazer graduação. O candidato à presidência José Serra, por exemplo, está fazendo campanha pelo ensino técnico. A ideia é: o que adianta sair com um diploma de administração se você não vai administrar uma empresa? O problema é o mesmo no doutorado. Sendo muito otimista, acredito que metade desses milhares de alunos de doutorado é composta pelos que eu chamo de "doutores mobral", o doutor analfabeto, que mal sabe ler um artigo científico, quanto mais escrever. O Brasil quer formar doutores, então vamos formar de verdade.

- Existe algum outro fator que contribua para a baixa qualidade na formação desses doutores?

Um fenômeno atual é o caso de pessoas que se formaram em faculdades particulares estarem ingressando na pós-graduação. São alunos mais fracos, isso é um fato. Mas estão entrando porque a pós está expandindo. Eu diria que 90% da produção de doutores vêm das faculdades públicas. E diria ainda que 90% dos que vêm das particulares são fracos. Essa produção vai crescer, depois vai estabilizar e lá para 2025 vai começar a cair, porque vai ser quando os atuais orientadores vão se aposentar. Pode até ser que a produção de teses continue a crescer infinitamente. Só que essa segunda geração de "doutores Mobral" vai produzir a tese e não publicar ciência, a menos que as revistas também baixem muito o nível.

- Não existe reprovação em pós-graduação?

Praticamente não tem. 99,9% das pessoas são aprovadas no mestrado. O orientador corrige a tese antes de entregar para banca e muitas vezes a própria banca também reescreve a tese. Então a tese acaba não sendo mais do aluno, não é mais personalizada.

- Qual o motivo para o investimento no crescimento da pós-graduação no Brasil?

Para ter produção de ciência deve existir mão de obra para fazer pesquisa. E quem é que faz a pesquisa? O pesquisador coordena; 80% das pesquisas são feitas por alunos de doutorado. São eles a mão de obra. A Capes entendeu que, ao expandir ao máximo o doutorado, maior a produção e quantidade de resultados. A cada ano aumenta o número de alunos formados doutores e a cada ano aumenta o número de trabalhos publicados. A própria Capes usa isso como propaganda para mostrar como é positivo esse aumento do doutorado no Brasil. Fazem questão de divulgar que o Brasil, a cada ano, eleva sua posição no ranking de países que produzem ciência, ocupando o 14º lugar. Mas isso é criminoso: você forma o doutor para produzir a média de dois artigos. E é isso o que ele vai fazer. Veja o custo do país para formar uma pessoa cujo objetivo é fazer dois artigos. E, muitas vezes, quem vai escrever é o orientador, pois ele não tem condição de fazer isso. Porque é tudo muito rápido, prazos restritos e tem que fazer funcionar. O crescimento da ciência e da pós-graduação brasileira é uma neoplasia, um tumor e um dia isso vai explodir.

- O senhor acha que essa situação se sustenta no futuro?

Seria sustentável se as pessoas vivessem para sempre. Mas as pessoas morrem, se aposentam. Essa política está completando 6, 7 anos. Começou na era FHC em que se estimulavam os pesquisadores a publicar. Na era Lula a pressão é para se publicar o máximo que puder. Então os estudantes que estão sendo formados agora e que estão sendo ultra pressionados não sabem fazer pesquisa direito. Está sendo uma formação a jato, massificada, e quero ver essas pessoas quando a minha geração morrer ou aposentar. Quero ver se eles vão dar conta do recado, porque eles não tiveram a formação necessária. E quero vê-los formando outros profissionais dentro dessa visão de mega-produção de baixa qualidade. A minha crítica não é à publicação. Sou "produtivista". Mas sou contra ao mega-produtivismo.

- O senhor acha que esse panorama é contornável?

O que está acontecendo no Brasil é uma farsa e uma fraude com dinheiro público. Se fosse algo que pudesse ser resolvido mudando a política, mas não é. Será um "dano irreparável". Eu diria hoje, sem problemas, que temos de 30 a 40 mil doutores "Mobral" no Brasil, disputando empregos. Qual o problema para o Brasil? Imaginamos o país daqui a quinze anos sem capacidade de fazer ciência de ponta porque toda a geração se aposentou e os atuais não foram formados adequadamente.

- Como o senhor acha que essa questão do crescimento da pós-graduação é vista pelos outros pesquisadores?

Eu fiz uma pesquisa, publicada em 2008 em uma revista canadense, em que entrevistei vários colegas pesquisadores, selecionados ao acaso, sobre o que eles achavam da pós-graduação brasileira em vários aspectos. A grande maioria, e eu comparei com alguns señiors latino americanos (mexicanos, argentinos e chilenos), critica esses problemas de regras muito ruins da pós-graduação, de overwork e má qualidade dos recém-doutores sendo formados. O doutor tem que ser qualificado. Na minha área (Ciências Biomédicas) ele tem que ser capaz de propor um projeto de pesquisa, de executar esse projeto de pesquisa, de montar uma equipe, de buscar verba para isso, de publicar em periódicos internacionais, de ser avaliador de outros artigos, de dar palestras. Eu e os pesquisadores que entrevistei acreditamos que a maioria que está sendo formada não tem mais essas qualificações. Algumas pessoas falam que a qualidade do ensino como um todo está caindo. Não gosto de analisar por esse viés, não sou sociólogo. As coisas são mais simples: a pressão é muito grande, não está havendo tempo de formar as pessoas. Por exemplo, tenho um amigo no campus da Unifesp, que é professor titular, que reprovou os 10 candidatos de um concurso para professor e todos tinham doutorado. Que "ótimos" doutores.

Professor Dr Marcelo Hermes Lima
Ciencias Brasil - Professor Marcelo Hermes Lima

Agradecemos ao Prof. Marcelo a sua boa vontade e disponibilidade, nosso muito obrigada Dr!!!!

Telma Alcazar
MegLon

IGNORÂNCIA A CAUSA BÁSICA DA MALDADE - EFEITO NA SOCIEDADE E NOS DOENTES

Boa Tarde a todos amigos do Meglon,
Eu estava em falta com a Soninha, pois havia prometido reproduzir os textos relacionados com o SUS do seu blog: http://wwwblogdasboasnovas.blogspot.com/ . Segue abaixo uma interpretação da Sônia sobre a ignorancia e falta de conhecimento sobre a visão das patologias infecto-contagiosas.
Acredito ser uma importante visão de quem dedicou sua vida aos atendimentos  dessas patologias e hoje é acometida pela Hepatite C.

IGNORÂNCIA A CAUSA BÁSICA DA MALDADE-EFEITO NA SOCIEDADE E NOS DOENTES


Hoje passei o dia inteiro, pensando, lendo e vendo de que maneira trabalhar a questão da ignorância, da falta de conhecimento da sociedade em relação a muitas coisas, que se continuarem a ser compreendidas com uma visão da Idade Média, ou até mesmo antes da mesma, continuaremos a sofrer, a sermos vítimas de absurdos, de preconceito e até de estigmas .Uma desta áreas onde a maldade pode ser ativada é na área da doenças transmissíveis.
Quando trabalhava no SUS em Programas ligado as Doenças infecto contagiosas, como AIDS, Hanseniase, Hepatites, sempre tínhamos a preocupação de desmistificar os conceitos estigmatizantes da doença, fruto da ignorância. produzido pela pouca informação cientifica sobre as causas e transmissões das mesmas, ainda apoiadas em origens falsas, dos tempos antigos.
Doenças infecto-contagiosas geram medo e afastamento por causa de falta de informação. Além do mais têm o poder de julgamento moral e conduta noa maneira da transmissão das doenças, sem sabermos  que muitas das doenças nem são taõ contagiosas(como a Hanseniase), nem todas são capazes de transmissão direta através de contato com objetos de uso pessoal ou via sexual direta(no caso a Hepatie C), mas não nos assustamos de que algumas doenças são altamente infectantes e nós nem sabemos, pois pessoas podem ser portadoras sadias na transmissão de algumas doenças como no caso das Meningites Meningocócicas.
O fato desta falta de conhecimento gera separatismo, e as pessoas com determinadas doenças, até se escondem(no caso a Hanseniase) ou vivem em grupos fechados-como nos casos das Hepatite C , B e AIDS.
Aliada a toda esta desinformação, hoje pessoas totalmente sem conhecimento, usam esta falta de conhecimento para assustar pessoas ou até atemoriza-las, como no caso do "Cafetão que ameaçou uma pessoa, dizendo que a Hepatite C poderia ser transmitida se fosse soprada algo na boca da mesma"( relato na Internet) e que gerou uma resposta do Grupo MEGlon, esclarecendo a população via internet.
Mas além disto, a sociedade manifesta-se inclusive de maneira diferente aos portadores de doenças infecciosas e não infecciosas em relação ao apoio, solidariedade, compaixão.
Quando uma pessoa tem Câncer todo mundo se solidariza...Se tem Alzeihmer todo muito lamenta bastante, não que esteja errado estas manifestações, mas não podemos ter comportamentos humanos solidários diferenciados.
Quando voce tem uma doença infecto-contagiosa, em especial agora falando da Hepati C, todo mundo já quer saber:e como voce pegou? O que esta pergunta na realidade pode estar embutindo dentro de si mesma?  Um pre´julgamento, já que a doença está sendo conhecida de maneira incorreta. mas mesmo que pessoas adquiram doenças, através de vias sexuais ou através de uso compartilhado de seringas,, quem somos nós para termos atitudes de desprezado ou supremacia em cima das mesmas.?
Doente, são doentes e merecem todo respeito , carinho e cuidados.
Ambulatórios de doenças infecto-contagiosas, infelizmente, são implantados nos finais dos corredores, e alí estão os coitados, os culpados, os irresponsáveis?
Afinal se muitas doenças acometem as pessoas, grande parte da responsabilidade corre por conta dos Sistemas de Saúde, sejam publico, conveniado ou particular que não investem de maneira mais pontual na informação...
Além do mais, quando as doenças novas, surgem e ameaçam a economia do pais , ou os exercitos do mundo, imediatamente medidas de controle, prevenção ,estudos, pesquisas, são desencadeadas, como pudemos  ver no inicio da AIDS que havia um medo de que a força de trabalho jovem pudesse morrer rapidamente e a economia  e os campos de batalha ficassem desprovidos  deste grupo...
A gripe suína, logo detectada, espalhando-se de maneira rápida através do avião, também assustou o mundo, pelo desconhecimento e sua alta mortalidade. e em tão pouco tempo, anti-virais foram descobertos e implantou-se um protocolo mundial.
Mas e as hepatites C? Encontram-se meio obstruídas, no meio das outras Hepatites,sem informações pontuais, sem garantia de  maior agilização do atendimento, sem uma atenção e olhar dos profissionais de Saúde nos atendimentos regulares de saúde na Atenção Básica de Saude..
Qual o motivo? Falta de conhecimento do impacto da  morbidade  entre os profissionais e  com certeza, ainda pouco  inserida como doença para investigação clinica  regular na Atenção Básica. e quando descoberta , já com danos hepáticos severos. Será que era porque não aparece em todos os grupos sociais?apenas nos  nos usuários de drogas, nos que já tinham AIDS?  Será que é proque muitos pacientes usam a clinica particular, e nem são notificados os casos? Devemos investigar esta fragilidade do program em todos os seus niveis:promoção, educação  notificação.
O maior entrave numa descoberta de casos de doenças transmissíveis é o temor e medo das pessoas em como a sociedade vai tratar os mesmos após o diagnóstico..E então não aparecem .Adoecem no anonimato.
Então hoje pensei que poderia escrever algo , com este sentimento não so pessoal mais de Sanitarista, embora aposentada....
Como ativista Bahá'i,. preocupada com o bem -estar de todos, e não apenas com uma parcela da população, em com o meu próprio , agora afetada pela doença há mais de 36 anos ,encontrei nos Escritos de Abd'ul-Bahá o seguinte  Texto:


  "A causa básica da maldade é a ignorância, razão pela qual temos de segurar firmemente as ferramentas da percepção e do conhecimento."

A ignorância em muitos campos tem gerado, racismo apartheid, mortes, guerras, desentendimento e violações.Na saúde com certeza, está causando mal-estar, discriminação, desatenção, separatismo, violando os direitos de viver e conviver de maneira igualitária.
E como Bahái, também quero expressar , meu sentimento, de que por falta de conhecimento do que é ser Bahái, também sofro discriminação e as vezes estranheza.
Precisamos realmente saber, tomar conhecimento correto sobre tudo, para afastarmos as nuvens do preconceito e da estranheza..

Sõnia-Londrina2010
http://wwwblogdasboasnovas.blogspot.com/