Magaléa Mazziotti
Pode parecer estranho à primeira vista, mas as notícias recentes sobre os casos de infecções hospitalares, com o grupo de bactérias Klebsiella pneumoniae carbapenemase, vulgo KPC, sinalizam algo positivo em meio à tragédia: mais hospitais, por conta própria, estão acompanhando o problema.
No Paraná, Curitiba detectou três casos no Hospital de Clínicas (HC) e, em Londrina, a Secretaria Municipal de Saúde registrou mais de 20. Isso porque não há lei ou instrução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) exigindo a notificação compulsória aos gestores públicos sobre esse tipo de problema, a exemplo do que ocorre em algumas doenças, como a dengue.
Para se fazer isso, segundo os especialistas, seria necessário investir altas quantias para equipar os hospitais brasileiros com laboratórios capacitados a identificar tais bactérias.
Os números extraoficiais apontam que menos de 3% dos hospitais da rede privada ou credenciados ao Sistema Único de Saúde (SUS) possuem esse tipo de estrutura no Brasil.
“As pessoas não se dão conta do risco que correm, pois apesar da Vigilância Sanitária cobrar protocolos de procedimentos e uma comissão com a função de acompanhar os casos de infecções hospitalares, na maioria dos locais, não há meios de se detectar a existência de superbactérias como a KPC”, alerta a médica Marta Fragoso.
Ela é chefe do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital das Clínicas (HC), presidente da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) do HC e atua na Associação Paranaense de Controle de Infecção Hospitalar (Aparcih).
“As questões relacionadas à infecção hospitalar no Brasil só entraram na pauta de políticas públicas após a morte de Tancredo Neves, em 1985. Porém, nosso País ainda engatinha nesse assunto, somente em tragédias observamos alguma ação mais contundente”, critica.
O superintendente de Vigilância em Saúde da Secretaria de Saúde do Estado do Paraná, José Lúcio dos Santos, reconhece a necessidade de se criar uma estrutura capaz de realizar os exames para monitorar a presença dessas bactérias nos hospitais.
“Enquanto isso não ocorre, cabe a nós o dever de fiscalização e de incentivo ao cumprimento dos protocolos e das regras de controle das infecções hospitalares”, avalia.
Automedicação
A ausência de políticas públicas nem de longe é a única razão dos problemas de infecção hospitalar. Todos que se automedicam ou interrompem um tratamento com antibióticos antes de completar o ciclo também promovem a expansão dos casos de infecção.
Isso porque as superbactérias só viram “super” porque sobrevivem ao bombardeio de medicações tomadas de modo errado e, a partir disso, reproduzem bactérias ainda mais resistentes.
“É por esta razão que a resolução em discussão na Anvisa sobre a apreensão de receita em duas vias para antibióticos, assim como já se faz com medicamentos de tarja preta, é de suma importância do ponto de vista da saúde pública. Tão logo seja encerrada a consulta pública, a regra entrará em vigor em 30 dias e isso minimizará os problemas decorrentes da automedicação”, comemora Santos. Hoje, mais de 95% dos antibióticos existentes não conseguem bloquear a KPC.