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sexta-feira, 25 de junho de 2010

Triste (absurda) pesquisa sobre a transmissão sexual da hepatite C

Não há como não ser repetitivo nas criticas quando da divulgação errada ou tendenciosa sobre a transmissão sexual da hepatite C, pois são cometidos os mesmos erros repetidamente. O efeito perverso desse tipo de informação e altamente prejudicial para os infectados com hepatite, pois aumenta a discriminação e o estigma.

Foi publicada em 24/05/2010 na Folha de São Paulo matéria com o titulo de ‘’Hepatite C é ligada a jovens que fazem sexo com muitas pessoas’’ divulgando pesquisa feita na USP sugerindo que a hepatite C e transmitida sexualmente entre homens promíscuos.

O artigo já começa desconhecendo o assunto.  No primeiro parágrafo da matéria e colocado que a hepatite C e uma doença incurável.  Lendo a integra da pesquisa publicada na PloS ONE eles colocam que desde 1990 o sangue e testado no Brasil, quando na realidade deveriam ter se informado que o teste nos bancos de sangue aconteceu no final de 1992 e 1993.

Falam ainda que os casos de hepatite C estão aumentando e para tal, erradamente, estão se baseando no diagnostico de casos crônicos.  Ora bolas! Para se saber se existem novos infectados, se a doença está se propagando, devem ser analisados casos agudos, pois somente eles podem ser validos para assegurar quem se infectou recentemente. Qualquer profissional de saúde sabe disso.

Fazem ainda uma ilação entre o genótipo 1-a e a transmissão sexual. Ora bolas novamente!  O genótipo 1-a e comum em São Paulo.  Porque o relacionar com atividade sexual se na mesma pesquisa eles encontram que a maioria utilizou drogas.  Tiveram o mínimo cuidado de pesquisar se tais indivíduos utilizaram instrumento de manicure, se foram ao dentista, se tomaram vacinas na infância quando as seringas eram de vidro, etc. etc.?

Se tivessem lido o resultado do inquérito nacional realizado pelo ministério da saúde, onde foram testadas 35.000 pessoas, poderiam verificar que foi encontrado que aproximadamente 1% dos jovens com menos de 19 anos está infectado com hepatite C, um dado que ate o momento não encontrou explicação, mas que evidentemente não podemos considerar que todos esses jovens sejam promíscuos.  Os responsáveis pelo inquérito nacional tiveram a responsabilidade de evitar um julgamento precipitado como o realizado pelos pesquisadores da USP.

Em fim, é muito fácil vender uma matéria aos jornais quando se fala em transmissão sexual de uma doença, mas antes disso deveriam fazer uma leitura de estudos sérios, que passaram por aprovação dos Boards (grupo de especialistas que avaliam as pesquisas antes da sua publicação) das grandes publicações. Já a PLoS ONE trata-se de uma publicação pública que não possui uma avaliação cientifica dos artigos enviados.

Se os autores desejarem podem ler na seção TRANSMISSÃO SEXUAL da nossa página estudos sérios, controlados, realizados por instituições renomeadas, que mostram que a hepatite C raramente se transmite sexualmente.

Deveriam avaliar com a devida responsabilidade social que ao falar barbaridades desse tipo conseguem acabar com todo o trabalho realizado pelas associações de pacientes que lutam para tentar diminuir o estigma e discriminação que a hepatite C carrega.  Com pesquisas sem validade cientifica, simplesmente alarmantes para conseguir espaço na mídia, os infectados com hepatite C serão isolados em colônias, tal qual já aconteceu com a hanseníase ou, se saírem na rua serão obrigados a pendurar um pequeno sino em cada perna, para alertar a população que devem se afastar deles, tal qual com a hanseníase na antiguidade.

Gostem ou não os eminentes pesquisadores, fica aqui em defesa dos infectados meu repudio e protesto pela estúpida discriminação que os pesquisadores da USP podem criar com matérias desse tipo. O dinheiro das instituições públicas deveria ser gasto com maior responsabilidade. 


Social Networks Shape the Transmission Dynamics of Hepatitis C Virus - Camila Malta Romano1, Isabel M. V. Guedes de Carvalho-Mello2,3, Leda F. Jamal4, Fernando Lucas de Melo1, Atila Iamarino1, Marco Motoki1, João Renato Rebello Pinho3, Edward C. Holmes5,6, Paolo Marinho de Andrade Zanotto1*, the VGDN Consortium
1 Laboratory of Molecular Evolution and Bioinformatics, Department of Microbiology, Biomedical Sciences Institute – ICBII, University of São Paulo, São Paulo, Brazil, 2 Viral Immunology Laboratory, Butantan Institute, São Paulo, Brazil, 3 Laboratory of Tropical Gastroenterology and Hepatology, Department of Gastroenterology, Institute of Tropical Medicine, School of Medicine, University of São Paulo, São Paulo, Brazil, 4 Training and Reference Center DST/AIDS, Control Diseases Center, Secretary of Health of São Paulo State, São Paulo, Brazil, 5 Mueller Laboratory, Department of Biology, Center for Infectious Disease Dynamics, The Pennsylvania State University, University Park, Pennsylvania, United States of America, 6 Fogarty International Center, National Institutes of Health, Bethesda, Maryland, United States of America

 
Carlos Varaldo
Grupo Otimismo
Hepato@hepato.com
www.hepato.com