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sábado, 23 de abril de 2011

Minha percepção sobre o que poderá acontecer com a chegada do Boceprevir e o Telaprevir

Existe muita expectativa em todos os países com a próxima chegada dos inibidores de proteases para o tratamento do genotipo 1 da hepatite C. Aproximadamente 56% dos pacientes infectados com o genotipo 1 que já receberam tratamento com interferon peguilado e ribavirina não obtiveram sucesso com a terapia e, esses, serão os primeiros a "exigir" o retratamento utilizando um dos dois novos medicamentos com os quais a possibilidade de cura da doença será de aproximadamente 70%..

Parece então que entraremos numa era dourada e fantástica para todos, sejam eles nunca antes tratados, não respondedores, recidivantes, com fibrose moderada e com cirroses, gordos e magros, homens e mulheres, jovens ou velhos, pretos ou brancos, americanos, hispânicos, europeus ou asiáticos, em fim, a esperança mais parece um sonho divino para centena de milhares de infectados com o genotipo 1 da hepatite C. Mas será que o sonho vai se transformar em realidade ou para alguns não passará de um pesadelo?

Acredito que inicialmente os médicos estarão indicando os novos medicamentos para pacientes que necessitam de um retratamento e para pacientes nunca antes tratados que apresentam alta carga viral ou maior dano hepático. Mas esses mesmo médicos estarão sofrendo forte pressão por todos os infectados com o genotipo 1, todos querendo os inibidores de proteases porque praticamente dobram a possibilidade de cura.

Mas até agora ninguém está atento a dois graves problemas que estarão acontecendo e que em muitos países levarão a saúde pública a um verdadeiro caos. Por exemplo, no Brasil (e o exemplo serve para muitos outros países) a capacidade de tratamentos na hepatite C oferecidos pelo sistema público da saúde está "paralisada" nos últimos cinco anos em aproximadamente 11.000 tratamentos por ano, estando os centros de tratamento totalmente lotados e, como nada de efetivo está sendo feito pelo ministério da saúde para aumentar a capacidade de atendimento é fácil estimar que em 2012 continuemos atendendo com a mesma capacidade.

É então, qualquer pessoa minimamente inteligente pode prever que quando de repente mais de 30.000 não respondedores se juntarem a esses 11.000 de todos os anos, será impossível atender 40.000 pacientes. Tenho absoluta certeza que o Judiciário vai ser procurado praticamente por todos e então o caos estará acontecendo nos centros de atendimento.

O caos estará instalado e acho isso muito bom. Sou por isso um profeta do caos? Em absoluto, mas falo que será muito bom porque lamentavelmente saúde pública se faz para atender demanda e como a demanda será absurdamente grande e a imprensa vai mostrar com destaque a falta de capacidade do ministério da saúde as respostas também deverão ser grandiosas. Vejo que finalmente as hepatites terão a atenção que sempre deveriam ter conseguido.

Um segundo grave problema que poderá acontecer é em relação ao custo dos novos medicamentos. Ninguém sabe ainda qual será o seu preço, mas certamente será elevado. Tudo bem que muitos poderão ser tratados em menos de 48 semanas, o que vai representar uma redução do gasto com interferon e ribavirina, mas ao se acrescentar o custo dos inibidores de proteases tal economia será perdida e, naqueles que receberão tratamento por 498 semanas o custo será bem superior.

A um aumento no custo do tratamento, não podemos ignorar o aumento da procura por tratamentos e retratamentos. Alguém está pensando no ministério da saúde em aumentar o orçamento para 2012. Para não passarem vergonha por falta de medicamentos sugiro, no mínimo, dobrar a verba de medicamentos para hepatites em relação a 2011.

Bom, eu coloquei publicamente meu pensamento sobre o que poderá acontecer, assim deixo em mãos dos responsáveis pela saúde a bomba viral que vai explodir. A bomba viral já está com o pavio acesso e não será soprando que o irão apagar. Somente ações imediatas de planejamento estratégico é que poderão encontrar soluções para enfrentar a avalanche de procura por tratamentos na hepatite C em 2012.

Carlos Varaldo

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