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terça-feira, 26 de abril de 2011

Minha Historia com a Hepatite C e a Meg



Para iniciar  a minha historia com a Meg, uma amiga incrível que perdi para Hepatite C, preciso contar um pouco sobre como eu descobri ser portadora da Hepatite C.

No ano de 2000, eu já apresentava sérios problemas de saúde e nenhum médico que eu consultava conseguia fazer meu diagnóstico correto, por ser uma pessoa classificada por eles, como um organismo de atleta e ótimos resultados nos exames de check-up anuais. Em meados de 2005 as hemorragias uterinas aumentaram de freqüência e tempo de duração, meu ginecologista investigava tudo; endometriose, hormônios e uma extensa lista de procedimentos adotados para as investigações e nada, não conseguiam chegar a um diagnostico concreto. Um conjunto de fatores apontava para meu problema hepático e não sei se os médicos não acreditavam ou se não tinham conhecimento suficiente para concluírem o diagnóstico...  Essa é uma das perguntas que nós portadores da C fazemos e jamais teremos respostas.
Eu procurava em diversos médicos um diagnóstico e durante um ultrasson o médico me pediu licença para passar o ultrasson sobre meu abdômen, com minha permissão, ele me perguntou se eu bebida, eu disse que não, que sentia enjôos. Ele escreveu uns rabiscos em um papel a parte e me pediu para entregar para meu ginecologista no dia da consulta, nessa mesma época minha irmã desenvolveu câncer de mama e nós nos unimos para ajuda-la a superar a mastectomia seguida de quimioterapias e radioterapias, acabei deixando meus problemas de saúde um pouco de lado e nos concentramos em minha irmã. Hoje ela está cura.

Até que em dezembro de 2006, meu organismo pedindo socorro entrou em hemorragia e desta vez, as medicações não as controlavam adequadamente o que por fim me obrigou a uma histerectomia total. Hoje sei que foi uma sorte meu organismo ter reagido desta forma, pois eu enfrentaria e enfrento até hoje a plaquetopenia e se ainda estivesse com meu útero, não sei como eu estaria viva.
Eu estava pré-anestesiada para a cirurgia, meu ginecologista, que é meu médico querido há uns 20 anos, chegou pertinho de mim e disse: Telma, eu estudei seu prontuário médico e vi um historico de reclamações de sensação de febre e calafrios,  então percebi a necessidade de realizar alguns exames de doenças infecto-contagiosas(Sorológicos) e dentre esses exames um deles não veio bom, seu exame anti-HCV veio reagente.

Eu respondi: O que é isso? 

Ele muito calmo, mas com olhar triste me disse: Vamos fazer um procedimento de cada vez. Depois eu te explico melhor, vamos pensar na cirurgia.

Não consigo me esquecer daquele olhar que se repetiu outras muitas vezes a cada nova consulta, até o dia do falecimento de outro médico conhecido. Nesse dia, quando nos encontramos, meu médico ginecologista tristonho com a perda do colega e amigo, desabafou comigo: O seu diagnostico Telma, de hepatite C, foi um dos mais dolorosos que já realizei durante minha vida profissional. 

Nessa hora eu vi que por trás daquele homem calmo, dedicado, sério mas atencioso, havia um ser humano torcendo pela minha saúde e que ele sofria comigo a cada descoberta dolorosa e de tão difícil entendimento para uma paciente leiga, como eu era na época. Médico e ser humano fantástico que me auxilia e orienta até hoje. Não posso deixar de citar também o Dr Pedro Humberto Perin Leite - gastroenterologista em Londrina, especialista em figado que me acompanha e aguenta meus mimimis rsrsrsr Muito obrigada aos médicos queridos dessa longa jornada.

Essa é apenas a primeira parte que pretendo escrever contando sobre nós, amigos do MegLon e nossas lutas. Principalmente quero contar-lhes a historia da Meg (Margarete Barella), a quem fizemos a homenagem colocando o nome em nosso Grupo de Amigos que lutam contra as hepatites virais.

Tema Alcazar
Coordenadora do MegLon

Nota do Blog:

A proposito o preconceito existente contra portadores de hepatites nos espanta, ontem fui chamada de "Noiada" via internet, eu nunca tinha ouvido esse termo e ao perguntar a médica psiquiatra que apoia o Grupo, fiquei espantada. 

Noiado(a) quer dizer quem usa ou usou drogas, e o pior é que a ofensa veio de um homossexual, pessoa que também sofre preconceito. Deixo registrado aqui que dos adjetivos pejorativos que já ouvimos, essa foi a primeira vez que acusaram de NOIADA, seja, alguém do nosso grupo e principalmente a minha pessoa, porque lutamos muito contra a drogatização. Falar até papaguaio fala(teclar), proponho a pessoa fazermos exames caso ele insista em me acusar de drogadita. Seria caso de "Ganhar um bom dinheiro com processo por discriminação" conforme ele mesmo me aconselhava??? Acreditamos que ganhar dinheiro dessa forma seria agirmos contra tudo que lutamos e a Honestidade é o nosso lema! Não queremos ganhar dinheiro com nossas patologias, tão pouco queremos piedade. O queremos e lutamos são por atendimentos dignos, humanizados, divulgações corretas, orientações e médicos qualificados. É simples, queremos nossos direitos legais respeitados.

Quero dizer que passarei por esse episódio assim como passei por tantos outros, pois essa pessoa que é de Londrina também, nunca, jamais se ofereceu a nos ajudar gratuitamente. Ao contrário, sempre se recusou e não assume sua homosexualidade abertamente.

Devo também deixar registrado que nunca recebemos um tostão de ninguém para fazermos nosso trabalho que é voluntário, e nós respondemos apenas pelo Grupo MegLon, cada Grupo de Hepatite responde por seus atos, não somos responsaveis por mais nenhum deles.

É oportuno responder  que a tal carona citada pela pessoa, não foi para me ajudar em nada, e sim para me levar para a campanha politica. Isso é tão pequeno que eu não queria escrever... Mas fui orientada para deixar registrada a ofensa.

Talvez por essas e outras nós portadores de hepatite nos agrupamos cada vez mais e vivemos em pequenos grupos. Contudo, nós aprendemos a cada dia e evoluimos mesmo com nossas dores, será que mais "alguém" evoluiu ou continuará com as mesmas atitudes?

Tema Alcazar
Coordenadora do MegLon