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sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Vírus da Hepatite C presente no esperma não explica a transmissão

Escrito por Republicado por Cláudio Santos de Souza   
Sex, 13 de Agosto de 2010 16:08
Gus Cairns

Um pequeno estudo apresentado na segunda conferência da BHIVA/BASHH concluiu que o vírus da Hepatite C (VHC) é apenas detectável no esperma de uma minoria de homens gay seropositivos para o VIH e co-infectados por ambos os vírus, e mesmo nesse caso, são níveis muito baixos. Foi descoberto que a carga viral seminal do VHC não é mais elevada em homens recentemente infectados do que em homens com infecção crónica.
Este estudo adiciona mais ao peso das provas de que a transmissão do VHC durante a relação sexual acontece por via sanguínea e não pelo esperma. Uma investigação comportamental já tinha sugerido que este seria o caso – ver Sangue ao invés do Sémen como modo de transmissão do VHC em homens seropositivos para o VIH – e deixa os investigadores em busca de uma explicação para o facto de os homens seropositivos para o VIH terem 50 vezes mais probabilidades de se infectarem com o VHC do que os homens seronegativos.
A Dra. Joanne Turner da Mortimer Market Clinic em Londres afirmou perante a conferência que outros estudos demonstraram que entre 10 e 40% dos homens infectados pelo VHC têm uma carga viral detectável no esperma e que os homens seropositivos para o VIH têm mais probabilidades de apresentarem carga viral de VHC no esperma do que os homens seronegativos.
No entanto, até à data nenhum estudo tinha conseguido investigar se a carga viral seminal de VHC era mais elevada em homens com infecção aguda. A hipótese era que a carga viral no esperma de homens recentemente infectados, em conjunto com factores comportamentais, levaria a clusters de infecções de rápido desenvolvimento entre homens seropositivos para o VIH que haviam sido observados em comunidades urbanas, desde Nova Iorque a Sidney.
O estudo recrutou homens da coorte de VHC no Mortimer Market que haviam sido diagnosticados à menos de seis meses. Foram coleccionadas amostras de sangue e esperma de homens seropositivos para o VIH, que se apresentavam na fase de infecção aguda pelo VHC, ao fim de um e de seis meses. Estas amostras foram então comparadas com outras amostras de homens com infecção crónica de VHC não tratada.
Foi utilizado um teste de carga viral sensível, capaz de detectar o VHC até dez unidades internacionais por mililitro (UI/ml) e o exame foi inicialmente testado em esperma “semeado” com VHC.
Este é um pequeno estudo piloto com apenas dez casos de infecção aguda e dez controlos crónicos. Os homens seronegativos para o VIH eram elegíveis para o estudo, mas sendo a infecção pelo VHC rara em homens seronegativos, até hoje nenhum foi recrutado.
A detecção de carga viral demonstrou ser insignificantemente frequentemente nos controlos com infecção crónica. Dois em cada dez tinham uma carga viral detectável no patamar inicial (37 e 230 UIs/ml). Nenhum dos homens com infecção aguda tinha carga viral detectável, embora um tenha desenvolvido uma carga viral (14 UIs/ml) no primeiro mês.
Aos seis meses, dois homens com infecção aguda, apresentaram carga viral detectável a certo ponto do estudo, comparada com quatro homens com infecção crónica, mas todas muito baixas, sem valores acima de 230 UIs/ml, comparada com valores na ordem dos milhões de carga viral sanguínea. Para além disso, não foi observada qualquer correlação neste estudo entre cargas virais no esperma e as sanguíneas.
A Dra. Turner afirmou que o método de recruta significa que o pico de virémia no esperma e no sangue pode ter passado despercebido nos homens com infecção aguda, mas dito isto, o resultado significa que “A crescente transmissão de infecção pelo VHC em homens seropositivos para o VIH permanece sem explicação”.

Referência:

Turner J et al. Hepatitis C viral load in semen of HIV-positive men during acute and chronic hepatitis infection. Second joint BHIVA/BASHH Conference, Manchester. Abstract O5. 2010