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domingo, 13 de junho de 2010

Necessidade de urgentes ações que protejam aos doentes de hepatite

Pedro Santamaría *

Talvez seja com muita simplicidade e facilidade que se fala de que as hepatites B e C são doenças assintomáticas. Isto, quando junto à total inexistência de informação leva a percepção amplamente generalizada que as hepatites B e C são doenças benignas e sem importância, dando a impressão que todos os infectados podem levar uma vida perfeitamente normal, sem sintomas, sem restrições de nenhum tipo e, portanto, sem padecer de complicações por culpa da hepatite.

Tal colocação não pode ser aceita como justificativa quando se pergunta aos diferentes órgãos competentes pela falta de programas e ações de informação e alerta sobre as hepatites. Falando mais claro e direto... é inconcebível, lamentável, além de irresponsável, que uma grande percentagem de infectados com as hepatites B e C estejam abandonados a sua própria sorte pelos gestores governamentais que devem cuidar das hepatites. Igualmente não se pode justificar em que "o que não se vê, não se ouve, não se apalpa, não se queixa…, não exista" e por isso não é motivo de preocupação nem de atenção, portanto nada de difusão, diagnóstico ou tratamento. Não pode o gestor pensar que e conveniente ignorar o que na aparência não existe, para não iniciar e implementar ações.

Mas a crua realidade é muito diferente e embora em ocasiões as hepatites sejam assintomáticas e silenciosas, não deveriam silenciar-se. Mas cedo ou mais tarde se manifestam e muitas vezes de que maneira!... Para quem vivencia o problema somos conscientes de que a situação é muito mais preocupante, real e progressiva e, por isso, não conseguimos entender que o que não se vê, não exista: sabemos que as hepatites B e C, embora queiram lhes subtrair importância com o de "assintomáticas" vão atuando com menor ou maior progressão (por isso que não se pode dizer que está adormecida), que irrompem e incidem na vida de quem as padece e que de uma ou outra maneira deixam sua marca. É que dizer dos doentes que desenvolvem uma cirrose, um câncer hepático, descompensação de funções, necessitam um transplante hepático ou falecem.

Esta realidade oculta das hepatites precisa de uma mudança radical de atitude por parte dos infectados, de uma nova visão, vontade, compromisso e fundamentalmente deixar de ser ignorados como doentes e devem passar a atuar, promover ações e fundamentalmente exigir que sejam implementadas pelos responsáveis da saúde pública. Já basta de continuar aceitando esta pasmosa e irracional passividade com a que está sendo ocultada uma das maiores epidemias atuais!

Foi recentemente publicado na revista Hepatology um interessante trabalho no qual se estudou a vários indivíduos com hepatite C e seu rendimento no trabalho. O estudo procura neste caso, comparar os dias de trabalho perdidos, produtividade, custo econômico…, entre empregados com hepatite C e empregados sem hepatite C nos Estados Unidos. Para isso, foram utilizados os registros do banco de dados "Human Capital Management Services Research Reference Database" tendo como referência a demografia, salários, gastos em saúde, faltas, etc.

Realizou-se com um total de 339.456 prontuários clínicos, onde estavam incluídos 1.664 empregados com hepatite C diagnosticada. O resultado mostra que os empregados infectados com hepatite C apresentam um índice de 4,15 vezes maior de dias não trabalhados que os empregados sem hepatite C. Por exemplo, se um empregado sem hepatite C falta 2 dias ao ano, um empregado com hepatite C falta mais de 8 dias por ano, bem seja por motivo das consultas médicas ou como conseqüências da doença. A produtividade de um doente de hepatite C resultou ser 7,5% menor que a dos empregados sem hepatite C.

Os gastos por saúde (nos Estados Unidos são de responsabilidade da empresa) com os empregados afetados de hepatite C foram significativamente mais elevados que com os empregados sem hepatite C.

A conclusão que podemos tirar, é que a um doente com hepatite C (além de muitos outros inumeráveis condicionantes pessoais) terá mais dificuldades, restrições e vulnerabilidades na hora de conseguir emprego, de ser promovido na empresa, além do considerável aumento do risco de ser demitido pelo mencionado aumento de faltas em seu trabalho, menor produtividade, etc. É certo que são dados que podem vulnerar os direitos a a privacidade como indivíduo e aumentar a discriminação, mas tampouco podemos ser tão incautos, pensando que jamais chegarão a ser aplicadas tais restrições aos infectados com hepatites, com certeza que se tomam diferentes decisões valendo-se destes dados. São os responsáveis pela saúde pública os que têm o dever e a obrigação de promover leis e normas que rebatam esta realidade e evitar a discriminação e o estigma dos doentes de hepatite.

O Grupo Otimismo, em defesa dos infectados, difunde, denuncia e reivindica todas estas problemáticas. A ASSCAT "Associació Catalana de Malalts d'Hepatitis de Catalunya" une-se a esta defesa em todos seus aspectos.

Os dados citados foram extraídos do estudo "The impact of hepatite C vírus infection on work´absence, productivity, and healthcare benefit cost" de autoria de Seu Jun, Richard A. Brook, Nathan L.Kleinman, Patricia Corey-Lisle, publicado Online na revista Hepatology em 19 de abril de 2010 -DOI: 10.1002/hep.23726.

* Texto do Pedro Santamaría, colaborador da ASSCAT. Adaptado do artigo "Motivos da necessidade de leis que protejam os infectados pela hepatite" escrito por Carlos Varaldo - Grupo Otimismo em 31/05/2010

Tradução: Carlos Varaldo
Grupo Otimismo

Um comentário:

  1. Excelente análise e artigo. estarei colocando no meu BLOG-http:/blogdasboasnovas.blogspot.com.Também estou agora fazendo parte do grupo da Meg.

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